ENTÃO…

As noites nunca mais foram as mesmas. Vivia-me, todas as noites, vasculhando o céu em busca daquela estrela; uma que um dia a dei de presente. Procurava ver nela – a nossa estrela predileta – o sentido de algo que a vista nua parecia não ter nenhum: o sentido desse sofrimento, dessa saudade e, o pior, dessa esperança que consumia o meu peito. A esperança de que ela voltaria. Passei horas e horas sentado, sozinho, naquela cadeira solitária no meio do coração da Praça de Império esperando por ela (…) via nós dois correndo e se abraçando naquele espaço, de mãos dadas passeando em forma de circulo simbolizando a aliança; escutava cada conversa que ouvia dela naquela noite de Junho, cada juramento e promessa; sentia cada beijo, cada olhar cheio de ternura penetrando a minha alma, enfim, cada demonstração de amor. Eu nunca estendi porque deu tudo errado entre nós. Se pudesse fazer voltar o tempo como uma fita, faria tudo como no primeiro dia em que nos conhecemos; faria tudo igualzinho naquela noite de Junho – antes do primeiro beijo -; faria tudo como na noite de pudim; como debaixo daquela chuva e como naquela tarde de Agosto, faria tudo diferente. Diria-a que falava sério quando disse que ia buscar o Padre para celebrar o casamento, o nosso casamento, naquela noite e no meio daquela rua; diria que era verdade quando disse que sou completamente louco por ela e que a amava com toda a força do meu coração e diria que na verdade ela ficaria engraçada carregando uma criança, nossa criança, no seu ventre, mas seria o melhor presente da nossa vida; diria mais, diria que naquela noite passei o tempo todo olhando ela dormindo feita uma flor no jardim e que diversas vezes apalpei os queixos dela, sussurrando-a nos ouvidos: meu amor, como eu te amo!? Também confessaria; confessaria que tinha o medo de um dia acordar sem os sons fofos que ela fazia de manhã ao abraçar o dia, ainda na cama; confessaria que a entreguei todas as minhas noites desde o dia em que se foi. Faria tudo isto e pedia: volta para mim, meu amor!