Oficialmente mais de duas dezenas de partidos se lançaram a corrida, com a entrega de candidaturas, às eleições legislativas de 10 de Março. Definitivamente à semelhança de quase todos os ciclos eleitorais experimentados a Guiné-Bissau novamente se investe, sem diminuir as margens de risco, para mais uma legislatura. Legislatura esta que tem tudo para ser mais um azar. Não canso de alertar de que “melhor que sair é saber para onde ir” e, nós não sabemos para onde vamos, ou sabemos e fingimos para não termos que remar. Partindo do seguinte:
i) – Com um PAIGC profundamente atingido com a erosão G15 que, sobremaneira, mexeu com as suas bases eleitorais mas que depõe 57 mandatos da legislatura ora terminada e, no fim, em consequência da sua crise interna o obrigou a perder, democraticamente, a legitimidade política e governativa acabando por parar na oposição. Mas que continua, pelo menos politicamente, dominando a narrativa apesar da sua demagógica e desajustada – à nossa realidade – literatura do desenvolvimento, contando com o grande apoio da comunidade internacional, embora este último não conta muito no terreno, talvez só na manipulação do escrutínio.
ii) – Com um MADEM – G15, fruto das expulsões e suspensões do PAIGC, que ostenta as bases eleitorais subtraídas do seu partido-mãe mas que carece duma proposta política e governativa clara capaz de apresentar alternativas às sucessivas desgovernação do maior partido do país e, que atua tentando dar respostas às “narrativas” do seu adversário direto numa autêntica declaração de “guerra” cujo fim está muito longe; um MADEM-G15 curioso e aventureiro que nem discurso tem e muito menos estar à altura de governar diferente daquilo que o seu partido de origem nos habituou. Francamente uma aposta arriscada. Isso só me lembra na aposta ao PRS vazio de 1999 e suas dramas.
iii) – Com um PRS confiante na sua tradição eleitoral mas falido, como sempre, de narrativa capaz de desconstruir a velha, vazia e demagógica narrativa do PAIGC, aliás um outro que vive atuar mancando as sombras deste como se dum predador que desconhece sua caça se tratasse. Um PRS que mais beneficiou da crise interna dos libertadores nos últimos anos e, mesmo não sendo o fabricante da crise mas se deixou tachado de tal; um PRS que também deu provas de ser igual que o PAIGC, que só faz discursos contra corrupção, nepotismo e banalização do Estado mas que nunca se afastou de praticá-lo quando é colocado a prova.
iv) – Com um APU que vive dos sonhos de conseguir a proeza que o seu líder teve na última eleição presidencial sem contar que o tabuleiro é outro mas, também, falido de novas abordagens e amarrado na sua psicodrama de fazer frente ao PRS no seu tradicional bastião por questões da solidariedade étnica. Um APU sem Kumba Yala para puxar o saco de Nuno Nabiam é um zé sem beira nem eira, um que não oferece grandes ameaças mas convencido embora desprovido de massa capaz de olhar e pensar “nnau, ku essis nô na safa” ou seja, APU – a imagem do moribundo PRID – só veio para puxar o nosso já puxado saco.
v) – E, com os restantes “pequenos” partidos, uns melhores que outros em termos de ambição e determinação em fazer face ao status quo mas que terão que disputar as bases eleitorais dos tradicionais partidos. Ainda sem meios à dimensão dos “grandes” partidos torna esta investida cada vez mais complicada. Destes partidos não temos muita queixa, só temos dúvidas.
Postos os cenários me levam a crer que estamos perante uma eleição indefinida, talvez a mais indefinida da nossa história democrática em termos de resultados, mas com uma quase probabilidade de não haver uma maioria absoluta. Daí a chapa fica quente só de pensar. Para evitar o mesmo descalabro da legislatura finda, o PAIGC tem que ganhar – se é que vai ganhar – com uma margem que o permite ditar a regra do jogo sem dependências, algo difícil e quase impossível no atual xadrez.
Em caso do PRS, MADEM-G15 e os seus aliados, juntos, se constituem a maioria dos assentos parlamentar é mais que óbvio que não perderão por esperar, apresentarão uma alternativa governativa porque jamais aceitarão o convite do PAIGC, caso ganhar, sendo eles na altura de ditar a regra do jogo.
E a estabilidade política e governativa que tanto nos deu falta na legislatura finda?
Olhando para o quadro vigente é de bom tom dúvidar que nenhum partido ou aliança pós-eleitoral será capaz de a criar e manter, o que me leva a concluir que estamos perante uma investida cega, estúpida e sem cabimento! Algo que pensando a Guiné-Bissau, sem remorso, perderíamos evitar.
Ora, depois deste episódio legislativo a chapa voltará aquecer e veremos se o Jomav sai ou não sai frito porque para ele, como para o PAIGC, o futuro ainda é bem sombrio! E, a Guiné-Bissau terá que esperar, infelizmente